quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

O Gueto dos Anarcobudistas

as cartas de amor arrulham na praça da República
a tertúlia então discute o destino dos grandes
transparentes
os números pitagóricos lançam um esgar
de desprezo para as brincadeiras apocalípticas
o uirapuru pinga as gotas de orvalho
nos olhos da Caipora
o elo perdido coabita com o fogo sagrado
o cubo negro porém plana sobre o ideograma chinês
enquanto um tubo de relâmpagos evoca
a mãe do ovo flogístico

A Vesícula de Clara Luz

Moloch chafurda-se no sangue 
             do quarto crescente
o bilboquê boxeia 
             com a sombra das fadas
bombas coulrofóbicas afloram 
             na ikebana de sete cabeças 
o ramalhete de césio exulta 
             ao infundir o élan mortal 
ao âmago da viúva-negra

sábado, 23 de fevereiro de 2019

O Tatu-Bola Hiberna Num Buraco-Branco


as aves-do-paraíso moíam o caroço de azeviche para que os astronautas forjassem o ferro coleante assim foi concebido a espiral da vida os antropoides alados deixaram seus traços remanescentes nos cascos das tartarugas a crista do redemoinho transfigura o molusco que se infiltra nas fissuras da vertigem

As Artimanhas do Oboé Mimoso


o lagarto teiú transfunde seu sangue mineral aos manequins da vitrine viva teiú é o guia do submundo do sonho a vida aderente veste a mortalha negra & desvanece no ar a magia fura meus olhos de pitomba crianças ferinas assustam o fantasma com o canto da araponga rastreio a libido selvagem entre os cânones do meu corpo alquímico o amor justiceiro paira à deriva para as infinitas combinações do acaso abro pequenas brechas na minha consciência & planto uma bicicleta de kundalini no umbigo da glicínia os relâmpagos sacrílegos removem cirurgicamente os geoglifos em estágio de pupa

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Orfeu Debulhando o Asfalto


os primeiros primatas coletavam as chamas da nebulosa de Órion evocavam a linhagem da lava levedavam o vento noturno até encontrar a assinatura de Deus no meio das trevas onde as luzes respiram através de guelras o bálsamo extraído do basalto solta chispas & chistes como um boneco vodu farejando a alma das mandrágoras

A Safra de Ímãs de Gude


o sangue de Shiva
             concorre misticamente
com meu sangue ígneo
             as mulheres extraem 
o gozo dessas fagulhas convulsivas
             o novilúnio chega até a cúspide 
com a cor do aniquilamento
             & implanta em si a medula solar
da Deusa Amaterasu
             há dentro do pau oco um mundo 
em miniatura quase um multiverso 
             avesso à inapetência do maravilhoso

A Ceia dos Necrófagos


o vórtice musical provê meus pulmões com o sêmen lunar a corola de arco-íris exibe a brandura aguerrida que passa a integrar a coleção de auroras do Deus do Embuste (Ele refuta a supremacia branca durante o sacrifício de sangue) a chama bífida, no entanto, despoja-se de seus cometas sobressalentes sobretudo em algures onde as aves ventríloquas roubam a voz do crepúsculo

Memórias de um Pornógrafo

dobro as labaredas da madrugada no covil das cobras bicéfalas a clepsidra cronometra o transcurso da mutação genética somente o olho que enxerga o recôndito escrutina o destino da noite o incenso de mirra, sândalo ou olíbano almiscara os seios da dilaceração o bricabraque bombeia o tutano da minhoca até a extremidade distal das begônias

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Colmeia das Fábulas


urubus circulam a pedra do sol 
             rica em presságios obsoletos 
o fogo glabro cria a utopia 
             no quintal do inferno
ídolos consanguíneos disputam 
             a verticalidade do ouro
há palavras bruxuleantes 
             saindo da vulva de Baphomet

Cut Up das Efemérides


gigantones & cabeçudos chegam ao paroxismo da malemolência seus corpos passam pela fase de muda substituindo seus esqueletos por galhos de casca grossa ouçam essa arborescência murmurar o mantra com a boca amordaçada! entro na concha vazia do caramujo & levo comigo pedaços da aurora ruiva

A Genealogia da Morte


o eterno feminino rasga o ventre perpetuando o espasmo das estrelas o mínimo inominável, o Nada, sobrepuja o axioma da força, segundo Lao Tsé meu instinto apolíneo instiga o pensamento indomável que levanta as barricadas do desejo enquanto os suicidas outrora desabrochavam como lírios

revolucionários sonho com a criança lobisomem que morde as nádegas do arco-íris pois a vida é um stand-up de humor negro

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

O Miasma da Pele


demônios ubíquos alcaguetam a impostura das religiões fecais destarte a benzedeira recomenda a ablução do ovo mergulhando-o no sangue do pau-brasil o bode hermafrodita renasce no domicílio da Via-Láctea seu coração cálido reverbera no atol das esferas onde se ordenha o leite psicopompo do xadrez de estrelas

O Relicário das Petúnias


ausculto o pulsar do Universo 
             com o aparelho inequívoco
o gênio solar realiza 
             meus desejos soteriológicos 
o fogo sumério sorri quando me embebedo 
             com o vinho do dilúvio 
o Demiurgo desvairado 
             aguarda a maturação do molibdênio 
enterrado no antro da terra 
             isso permite que minhas 
visões pneumáticas movam a turbina 
             de sortilégios

O Carnaval Edipiniano


o vapor de chumbo proclama 
             a obsolescência da vida 
ao mutilar o sexo do crepúsculo
             eis os ciclones de Júpiter 
& seu estopim nupcial
             a obsessão compulsiva do sol 
& da lua lustra o espelho negro
             beijo o abscesso do amor prestes 
a supurar nessa massa pustulenta

A Cocção dos Metais Amorosos


o fogo índigo exsuda a baba que banha a serpente emplumada a fênix senta no ninho da dissociação psíquica o cavalo mecânico dá coices em minha alma de olíbano consubstancio-me no corpo da exasperação dançando o Butô no lado escuro da lua

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

A Cafetina de Shangri-La


embrião da anarquia hélice do desatino a morte em latência se multiplicará sob o fascínio das pétalas meu sangue circula nos tubos dúcteis da biblioteca clandestina espécies incendiárias geneticamente suprimidas pelo seu fulgor intolerável meu desejo sibilino enrodilha-se na respiração célere dos meteoros retiro o mel feérico das colmeias do Darma robôs seráficos praticam a ioga ciberpunk

A Metafísica Fúcsia


as piranhas comem
             o cerne das nuvens arborícolas 
o verbo em carne viva 
             distribui o dom da combustão 
o amor & o ódio criaram o falo 
             & a vulva da pedra simultaneamente
a boca da noite chupa o fogo rígido
             a felação é o arremedo do ouroboros 
a transmutação do amor
             o óvulo fecundado pela quintessência 
acomodado no vaso de tulipas ardentes

O Batismo de Fogo da Fênix


o sol em riste dissemina 
             seus flocos de luz sobre a terra
as pombas cagam 
             nos tiranos de pedra-sabão
paiol de armas curandeiras
             o planeta respira o acaso 
além do cérebro 
             os seixos sazonais amadurecem 
na galhada do vento
             o Cupido transfere os embriões 
do amor para o aquário amniótico

domingo, 3 de fevereiro de 2019

A Zarabatana Suburbana


o sonho transforma as violetas de outono em fagulhas apolíneas o satori tonifica os músculos do samsara a chuva de ossos esparge sobre a terra pútrida que se agrega ao tronco de mulungu a nudez jocosa veste a roupa da nigredo cus-de-lume iluminam a mina de diamante azul hormônios atmosféricos regulam as quatro estações a lua instiga o clã das águas & seu cheiro branco desperta minhas reminiscências

O Origami de Abraxas


a Caipora engole os arbustos incandescentes 
             proibindo-os de proferirem 
a palavra secreta
             o vapor prolixo lança-se 
no sumidouro das pedras 
             o sal satírico salga a terra & atira
suas raízes para as nuvens conspícuas

Os Meteoritos Marajoaras


o Caos é uma espiral budista 
             onde atracam navios fantasmas 
atrelados com cordões umbilicais
             o escaravelho mimetiza-se
as gárgulas suscitam o amor-obsidiana
             a caveira inicia a homeostase 
da lua vermelha
             o canário trina desterrando 
a gangue noturna 
             as feiticeiras leem 
o grimório sanguinário
             o corvo despeja o sol 
sobre as negras plumas da Eternidade
             Hórus avista o Saci Pererê 
incubado no tronco anacoreta
             nossos ancestrais abrolharam
durante a diáspora das estrelas

Amor Fora-da-Lei


as mariposas exumam 
os relâmpagos de jade
um pomar de peixes voadores
mordiscam os submarinos 
o radar no cio flagra a lua 
fornicando com a maré robusta
girassóis do mar florescem 
com a chegada das baleias 
ao santuário de Abrolhos
o elixir da dilapidação
dissipa a luz nos intervalos 
de cada respiração

Ronronar de Jaspe


anjos da tribo respiram a luz
do crepúsculo
harpias bebem o cauim e deleitam-se
nos octógonos do sonho
as plantas alucinógenas 
celebram a diversidade das espécies
a flora sagrada ressuscita o vento
a mônada do alfabeto

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Isca de Cometa


a estrela da manhã rouba os frutos 
do purgatório 
há uma falange de vagalumes 
invadindo o ninho das estrelas
o sol visceral é o criador 
dos ídolos aborígenes 
que assaltam o sonho das raças 
consumidoras de ayahuasca
as xilogravuras de cordel
ilustram a epopeia do fracasso

Supremacia do Azul


a escritura arcaica acaricia 
o objeto fetichista 
que nasce da linguagem bruta
os unicórnios 
relincham nas pradarias da Utopia
clarividência plurívoca
a pedra jugular gera o sonho 
que amadurece entre as folhas 
rubras de sua vulva macia

Amor Neandertal


o conhecimento primitivo renasce 
à meia-noite
pajés arruaceiros invadem a Praça Vermelha
o teatro me ensina 
a cor dos presságios e o império da orgia
o unicórnio é o rei do deboche
Devas bebem uma cerveja no inferno

Labareda Tricéfala


o tubarão palmilha a Serra Leoa
a lubricidade 
desfolha o silêncio
a palavra lateja a céu-aberto 
profetizando 
a mandala anímica
o erotismo sagrado 
ensina-nos o perigo da renúncia
manhã crocitando à flor da pele
o seu duplo 
deslumbra a anã-branca