o Caos é uma espiral budista
onde atracam navios fantasmas
atrelados com cordões umbilicais
o escaravelho mimetiza-se
as gárgulas suscitam o amor-obsidiana
a caveira inicia a homeostase
da lua vermelha
o canário trina desterrando
a gangue noturna
as feiticeiras leem
o grimório sanguinário
o corvo despeja o sol
sobre as negras plumas da Eternidade
Hórus avista o Saci Pererê
incubado no tronco anacoreta
nossos ancestrais abrolharam
durante a diáspora das estrelas
as mariposas exumam
os relâmpagos de jade
um pomar de peixes voadores
mordiscam os submarinos
o radar no cio flagra a lua
fornicando com a maré robusta
girassóis do mar florescem
com a chegada das baleias
ao santuário de Abrolhos
o elixir da dilapidação
dissipa a luz nos intervalos
de cada respiração
anjos da tribo respiram a luz
do crepúsculo
harpias bebem o cauim e deleitam-se
nos octógonos do sonho
as plantas alucinógenas
celebram a diversidade das espécies
a flora sagrada ressuscita o vento
a mônada do alfabeto
a estrela da manhã rouba os frutos
do purgatório
há uma falange de vagalumes
invadindo o ninho das estrelas
o sol visceral é o criador
dos ídolos aborígenes
que assaltam o sonho das raças
consumidoras de ayahuasca
as xilogravuras de cordel
ilustram a epopeia do fracasso
a escritura arcaica acaricia
o objeto fetichista
que nasce da linguagem bruta
os unicórnios
relincham nas pradarias da Utopia
clarividência plurívoca
a pedra jugular gera o sonho
que amadurece entre as folhas
rubras de sua vulva macia
o conhecimento primitivo renasce
à meia-noite
pajés arruaceiros invadem a Praça Vermelha
o teatro me ensina
a cor dos presságios e o império da orgia
o unicórnio é o rei do deboche
Devas bebem uma cerveja no inferno
o tubarão palmilha a Serra Leoa
a lubricidade
desfolha o silêncio
a palavra lateja a céu-aberto
profetizando
a mandala anímica
o erotismo sagrado
ensina-nos o perigo da renúncia
manhã crocitando à flor da pele
o seu duplo
deslumbra a anã-branca
a navalha cinde a esfera do tempo
provocando a revoada
dos anjos caídos
as estrelas atingem o cume
do desejo ardente
lampejando como um coração sublime
cães selvagens rosnam para
o vórtice da vertigem
sigo o rumo incerto do furacão
sinais de mudança nas novas águas
o nenúfar chupa os ossos das palavras
o vulcão ordenha a estrela cadente
o amor aduba a carne
e reside no núcleo da Terra
quem fala no poema é o mito
o talismã que nomeia o fogo
em diversos dialetos
a turmalina tritura os relâmpagos
e os coriscos negros florescem
no córtex cerebral
o útero da lâmpada
engendra as trevas
Krishna germina
no jardim do Éden
a ioga tântrica excita
o anjo suicida
o fruto afrodisíaco incorpora
o deboche hermafrodita
tatuagem no pênis
de Zaratustra
a matilha pornográfica
nocauteia o Absoluto