domingo, 3 de fevereiro de 2019

x A Zarabatana Suburbana


o sonho transforma as violetas de outono em fagulhas apolíneas o satori tonifica os músculos do samsara a chuva de ossos esparge sobre a terra pútrida que se agrega ao tronco de mulungu a nudez jocosa veste a roupa da nigredo cus-de-lume iluminam a mina de diamante azul hormônios atmosféricos regulam as quatro estações a lua instiga o clã das águas & seu cheiro branco desperta minhas reminiscências

x O Origami de Abraxas


a Caipora engole os arbustos incandescentes 
             proibindo-os de proferirem 
a palavra secreta
             o vapor prolixo lança-se 
no sumidouro das pedras 
             o sal satírico salga a terra & atira
suas raízes para as nuvens conspícuas

x Os Meteoritos Marajoaras


o Caos é uma espiral budista 
             onde atracam navios fantasmas 
atrelados com cordões umbilicais
             o escaravelho mimetiza-se
as gárgulas suscitam o amor-obsidiana
             a caveira inicia a homeostase 
da lua vermelha
             o canário trina desterrando 
a gangue noturna 
             as feiticeiras leem 
o grimório sanguinário
             o corvo despeja o sol 
sobre as negras plumas da Eternidade
             Hórus avista o Saci Pererê 
incubado no tronco anacoreta
             nossos ancestrais abrolharam
durante a diáspora das estrelas

Amor Fora-da-Lei


as mariposas exumam 
os relâmpagos de jade
um pomar de peixes voadores
mordiscam os submarinos 
o radar no cio flagra a lua 
fornicando com a maré robusta
girassóis do mar florescem 
com a chegada das baleias 
ao santuário de Abrolhos
o elixir da dilapidação
dissipa a luz nos intervalos 
de cada respiração

Ronronar de Jaspe


anjos da tribo respiram a luz
do crepúsculo
harpias bebem o cauim e deleitam-se
nos octógonos do sonho
as plantas alucinógenas 
celebram a diversidade das espécies
a flora sagrada ressuscita o vento
a mônada do alfabeto

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Isca de Cometa


a estrela da manhã rouba os frutos 
do purgatório 
há uma falange de vagalumes 
invadindo o ninho das estrelas
o sol visceral é o criador 
dos ídolos aborígenes 
que assaltam o sonho das raças 
consumidoras de ayahuasca
as xilogravuras de cordel
ilustram a epopeia do fracasso

Supremacia do Azul


a escritura arcaica acaricia 
o objeto fetichista 
que nasce da linguagem bruta
os unicórnios 
relincham nas pradarias da Utopia
clarividência plurívoca
a pedra jugular gera o sonho 
que amadurece entre as folhas 
rubras de sua vulva macia

Amor Neandertal


o conhecimento primitivo renasce 
à meia-noite
pajés arruaceiros invadem a Praça Vermelha
o teatro me ensina 
a cor dos presságios e o império da orgia
o unicórnio é o rei do deboche
Devas bebem uma cerveja no inferno

Labareda Tricéfala


o tubarão palmilha a Serra Leoa
a lubricidade 
desfolha o silêncio
a palavra lateja a céu-aberto 
profetizando 
a mandala anímica
o erotismo sagrado 
ensina-nos o perigo da renúncia
manhã crocitando à flor da pele
o seu duplo 
deslumbra a anã-branca

quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Degradação da Cura


a navalha cinde a esfera do tempo
provocando a revoada 
dos anjos caídos 
as estrelas atingem o cume 
do desejo ardente
lampejando como um coração sublime
cães selvagens rosnam para 
o vórtice da vertigem
sigo o rumo incerto do furacão
sinais de mudança nas novas águas

Pã Vive!


o nenúfar chupa os ossos das palavras
o vulcão ordenha a estrela cadente
o amor aduba a carne 
e reside no núcleo da Terra
quem fala no poema é o mito
o talismã que nomeia o fogo
em diversos dialetos
a turmalina tritura os relâmpagos 
e os coriscos negros florescem 
no córtex cerebral

A Grande Obra


o útero da lâmpada 
engendra as trevas
Krishna germina 
no jardim do Éden
a ioga tântrica excita 
o anjo suicida
o fruto afrodisíaco incorpora 
o deboche hermafrodita
tatuagem no pênis 
de Zaratustra
a matilha pornográfica 
nocauteia o Absoluto

Florada da Putrefação


banido do purgatório o demônio 
esculpe uma mulher de sal
é obra da subversão 
compilar os aforismos mais sangrentos
os anjos polinizadores coletam 
os eflúvios solares 
que conduzem ao nosso aniquilamento
a existência exuberante guincha 
como engrenagens maniqueístas
a desordem prevalece no Jardim da Babilônia
a gangue de acrobatas rouba 
o fogo obsceno do teatro do absurdo

Ioga Rubra


anéis de fogo surgem 
na manhã carnívora
primeira dentição do sol
o dragão caga no deserto negro
seus mamilos apontam 
para o zênite 
o equinócio da paixão mantém 
o metabolismo do céu inconstante

quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Via-Láctea


a harpia aterrissa 
no ombro da peste 
embriagando-se 
com o cheiro de carniça
sou instruído 
na arte da magia 
pelos anjos tatuados 
que esquartejaram 
o escorpião onírico
a libertinagem é 
a origem de toda vidência
o dragão cospe o fogo 
mitológico enfeitiçando 
o diamante bruto
o silêncio soando de dentro
das vísceras do Universo