o eterno feminino rasga
o ventre perpetuando
o espasmo das estrelas
o mínimo inominável, o Nada,
sobrepuja o axioma da força,
segundo Lao Tsé
meu instinto apolíneo instiga
o pensamento indomável
que levanta as barricadas do desejo
enquanto os suicidas outrora desabrochavam como lírios
revolucionários
sonho com a criança lobisomem
que morde as nádegas do arco-íris
pois a vida é um stand-up de humor negro
demônios ubíquos alcaguetam
a impostura das religiões fecais
destarte a benzedeira recomenda
a ablução do ovo mergulhando-o
no sangue do pau-brasil
o bode hermafrodita renasce
no domicílio da Via-Láctea
seu coração cálido reverbera
no atol das esferas
onde se ordenha o leite psicopompo
do xadrez de estrelas
ausculto o pulsar do Universo
com o aparelho inequívoco
o gênio solar realiza
meus desejos soteriológicos
o fogo sumério sorri quando me embebedo
com o vinho do dilúvio
o Demiurgo desvairado
aguarda a maturação do molibdênio
enterrado no antro da terra
isso permite que minhas
visões pneumáticas movam a turbina
de sortilégios
o vapor de chumbo proclama
a obsolescência da vida
ao mutilar o sexo do crepúsculo
eis os ciclones de Júpiter
& seu estopim nupcial
a obsessão compulsiva do sol
& da lua lustra o espelho negro
beijo o abscesso do amor prestes
a supurar nessa massa pustulenta
o fogo índigo exsuda a baba
que banha a serpente emplumada
a fênix senta no ninho
da dissociação psíquica
o cavalo mecânico dá coices
em minha alma de olíbano
consubstancio-me no corpo da exasperação
dançando o Butô no lado escuro da lua
embrião da anarquia
hélice do desatino
a morte em latência se multiplicará
sob o fascínio das pétalas
meu sangue circula nos tubos dúcteis
da biblioteca clandestina
espécies incendiárias geneticamente
suprimidas pelo seu fulgor intolerável
meu desejo sibilino enrodilha-se
na respiração célere dos meteoros
retiro o mel feérico
das colmeias do Darma
robôs seráficos praticam a ioga ciberpunk
as piranhas comem
o cerne das nuvens arborícolas
o verbo em carne viva
distribui o dom da combustão
o amor & o ódio criaram o falo
& a vulva da pedra simultaneamente
a boca da noite chupa o fogo rígido
a felação é o arremedo do ouroboros
a transmutação do amor
o óvulo fecundado pela quintessência
acomodado no vaso de tulipas ardentes
o sol em riste dissemina
seus flocos de luz sobre a terra
as pombas cagam
nos tiranos de pedra-sabão
paiol de armas curandeiras
o planeta respira o acaso
além do cérebro
os seixos sazonais amadurecem
na galhada do vento
o Cupido transfere os embriões
do amor para o aquário amniótico
o sonho transforma as violetas
de outono em fagulhas apolíneas
o satori tonifica os músculos do samsara
a chuva de ossos esparge
sobre a terra pútrida
que se agrega ao tronco de mulungu
a nudez jocosa veste a roupa da nigredo
cus-de-lume iluminam
a mina de diamante azul
hormônios atmosféricos regulam
as quatro estações
a lua instiga o clã das águas
& seu cheiro branco
desperta minhas reminiscências
a Caipora engole os arbustos incandescentes
proibindo-os de proferirem
a palavra secreta
o vapor prolixo lança-se
no sumidouro das pedras
o sal satírico salga a terra & atira
suas raízes para as nuvens conspícuas