quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Navio Fantasma


os fantasmas contemplam 
o eclipse branco
depois de hibernarem nos favos de mel
os demônios acompanham 
o circo pagão 
repleto de louca sabedoria
o grito naufraga 
no oceano burlesco
minha alma restaura 
o antigo sonho cabalista
cachos de fogo na árvore da vida

Conhaque de Kali


os monges mendicantes tiram 
a sorte na roleta russa
a lua perfura o crânio 
dos anjos lactescentes
a baleia jubarte chega às crateras lunares
onde o Absoluto transfigura 
as potências tirânicas
a paixão autóctone brota de dentro 
da noite branca
os fantasmas notívagos tocam 
cítaras sob a regência 
do pensamento analógico

Umbigo da Água Ubíqua


as manchas solares 
são fósseis do universo
que chancelam os pergaminhos gnósticos
anjos negros executam 
os fraseados bebop
o silêncio é uma constelação de blue note
círculo da colheita
as mercenárias despem a aurora boreal
há beleza convulsiva na melancolia
caixa de pétalas incendiárias

Leilão da Antiarte


cancro de iluminuras você alimenta a planície de girassóis o Candomblé rega a colmeia de papoulas o vórtice do abismo lambe o cu do anjo lisérgico que ampliará a minha consciência com pecados subliminares

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Teor do Pânico


sua florescência 
é arcaica
pétalas de papoula 
orbitam em torno da estrela negra
respiro o perfume 
da noite iniciática entre as suas pernas

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Seiva Solar


as bacantes participam do banquete do abismo seus elementos percutidos instalam-se num mundo precursor e clandestino caçadores caçam cometas semeadores de heresias a matilha uiva para a lua nostálgica a aurora negra consome a mescalina do Zodíaco a sabotagem que profana o simbolismo da carne busca a própria transcendência jogo que fomenta a náusea existencialista os demônios cultivam fósseis no epicentro da convulsão dionisíaca

sábado, 19 de janeiro de 2019

Cicatrizes genuínas no gelo


oráculo inscrito na carapaça
da tartaruga
            eu provoco a tempestade
                        de pólen púrpura
na mansão do Caos
ianomâmis viajam nos pulmões
                        da Eternidade
                        bebi o absinto do sol poente
Eros desprovido de órgãos internos 
            desfruta a prosódia do poema

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

A profecia percorre as veredas do afeto


palhaços
coaxam no purgatório            
             sátiros criam anomalias no paraíso
             sou o iconoclasta
             que
sequestra as pinturas paleolíticas
             enquanto hieróglifos 
inundam o céu
              de samsara com alucinações musicais

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Quando existe essa constelação


o nenúfar deflora o virgem negra
               a escrita automática
               reverbera
                      no santuário da alma
o erotismo sagrado boia nas águas do incesto
                               ossos divinatórios enfeitiçam a noite
 sangue fluindo nas veias do ciclone
          minha caixa craniana
          é um refúgio visionário
                       onde ovos luminosos
                                são chocados pelo crepúsculo
 você canibaliza a pilhagem neste sítio
                arqueológico
                               onde reina a trapaça

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

O globo poderia de outro modo se reproduzir


o útero
da lâmpada engendra as trevas
 
               Krishna
               germina no jardim das delícias
 
a ioga tântrica
               instiga o anjo suicida
 
               o fruto
afrodisíaco incorpora o deboche hermafrodita
 
               tatuagem
               no pênis de Zaratustra
 
a matilha cinematográfica
               nocauteia o Absoluto

sábado, 5 de janeiro de 2019

Tudo isso para obter a paleta da morte


a chuva distribui
visões
subterrâneas
 
                 a corça salta
                 o arco-íris e o espelho
                 gnóstico
 
          convulsão de fogos de artifício
 
ó tulipas
cro-magnon
                 suas pétalas
                 de ônix
       hibernam no alvéolo da noit
e

sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

O totem é um ponto a ser enfatizado


               o tubarão palmilha
               a Serra
               da Cantareira
a lubricidade desfolha
                       o silêncio
               a palavra
               lateja
               a céu-aberto
profetizando a mandala anímica
          o erotismo
          sagrado ensina-nos o perigo
                da renúncia
manhã crocitando
               à flor da pele
               o seu duplo deslumbra
                    a anã-branca

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Em nenhum momento permanece sem explicação


a navalha cinde a esfera do tempo
               provocando
               a revoada
               de pássaros vermelhos
 
as estrelas atingem o cume do desejo
               ardente
               lampejando como um coração sublime
 
               cães selvagens rosnam para o vórtice
               da vertigem
 
sigo o rumo incerto do furacão
 
               sinais de mudança nas novas águas

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Puer aeternus


         uma atmosfera azul
         permeia
         meu corpo graças
         à presença substancial de Osíris
 
          o deus redivivo
 
pois
esta atmosfera envolve o vendedor
de frutas que
se anuncia
pelo alto-falante
 
         & também
         as crianças
         nos triciclos respiram esta atmosfera
                               como se uma
                               exaltação
                               coletiva
                               tomassem-lhes os meios
         & suas mães
         elas
         também intoxicadas pelo
         alarido
         hilário delas

terça-feira, 1 de janeiro de 2019

A intensidade das penínsulas


o sonho cultiva o desastre no ventre da vertigem
 
                           vate
                           entoando
as palavras mais sangrentas
                 o devir
                 adere-se ao instinto
                 da vida
 
                 sigo inseminando as estrelas
 
a ascese proíbe
o gozo
& nos conduz
ao lento suicídio
 
                 o sândalo
                 entra
                 pelas narinas do arco-íris
 
                                     prelúdio da liberdade
                                     quebrando
                                     o tabu
                                     & as tábuas da lei